É
impossível pensar em arquitetura e não ser levado de imediato través do
pensamento a imagem de uma construção qualquer. De fato todos conhecem a
arquitetura pelas suas construções, as pessoas, portanto tendem a associar a arquitetura
a algo belo. Sendo assim, o que não for julgado como belo não é arquitetura?
Essa procura por identificar a arquitetura unicamente como uma construção bela
trás uma dúvida acerca da subjetividade dos julgamentos do que é ou não belo.
Ainda não existe
uma forma de distinguir as construções belas das outras, o que se pode fazer
para entender é classifica-las em grupos: o primeiro grupo corresponde às
construções que tem uma intenção artística; o segundo grupo são aquelas
levantadas sem uma intenção artística, mas que trás algum prazer estético e o
terceiro grupo correspondem às construções erguidas por acaso, por pessoas que
não possuem qualquer senso estético.
O terceiro
grupo não nos interessa.
Algumas
das construções que fazem parte do segundo grupo são aquelas obras temporárias,
ou seja, com o único intuito de fornecer abrigo, como os barracões para abrigar
operários, as favelas quando no início de sua formação, que posteriormente
passam por mudanças na tentativa de melhorar o aspecto do lugar onde vão viver
definitivamente.
O outro
tipo de construção são as obras populares que não tiveram intervenções
plásticas, mas que podem ser consideradas como belas, mesmo não tendo havido o
propósito de fazer arte. Esse tipo de arte, a “popular”, não despertava
interesse, algo mudou a partir do século XIX quando as gravuras japonesas e as
esculturas africanas despertaram a atenção dos críticos. Também podemos
associar a este grupo as construções “primitivas” que são construídas e
utilizadas por uma comunidade a partir dos recursos oferecidos pelo meio em que
vivem. Esses povos não tiveram influências de fora, dos povos dominantes e,
portanto desconhecem qualquer noção do belo e do que é estético. Esse tipo de
construção deu origem à expressão “vernácula”.
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Casa no Sítio Padre Inácio, Cotia, SP |
Existem as
obras nascidas a partir do primeiro contato entre os povos primitivos e
colonizadores, é o caso da arquitetura colonial de São Paulo, de procedência
ibérica, provavelmente espanhola, construída do material que dispunha - a terra
socada nos taipais, copiando os modelos antigos, construções com ares de
vernaculidade. Um exemplar desse tipo de construção é a Casa do Sítio do Padre Inácio, São Paulo, em sua fachada ornamentos
entalhados nos cachorros do beiral frontal diferenciando-se das outras fachadas.
Só não se pode afirmar se há uma intenção plástica ou apenas algo típico do
regional, mas esse modelo de casa se repetiu em todas as casas rurais da época, com algumas pequenas diferenças.
Embora
essas obras não estivessem determinadas a fazer arte, e tenham sido executadas
apenas por técnicos dispostos a solucionar problemas práticos por meio da
tecnologia, existem inúmeras obras que compartilham desse mesmo objetivo e, no
entanto sempre foram consideradas obras arquitetônicas diferente das demais que
só passaram a ter alguma validade artística nos dias de hoje.
São
exemplos de construções que não foram de início aceitas como obras arquitetônicas:
o Palácio de Cristal, construído pelo
fabricante de estufas Joseph Paxton por encomenda da rainha Victoria para a
Exposição Universal de Londres de 1851 (a obra foi destruída em 1936 por um
incêndio). A Torre Eiffel levantada
em Paris para a “Exposition Universelle”, projetada por Gustave Eiffel, a torre
foi alvo de muitas críticas e até de um abaixo-assinado na tentativa de impedir
a sua construção. Atualmente a Torre Eiffel é considerada de bom gosto e sem
contestação. A torre não atendia aos conceitos da época, o ecletismo. Eiffel
projetou a torre satisfazendo unicamente aos seus ideais estéticos movidos pela
geometria, as formas puras e os volumes.
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Torre Eiffel |
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Palácio de Crista, Londres |
LEMOS, Carlos A. C. O que é
Arquitetura.7.edição.São Paulo:Editora Brasiliense, 1994, 290p. (Coleção
Primeiros Passos)